sexta-feira, 8 de julho de 2011

"Pouco importa, venha a velhice. Que é a velhice? Teus ombros suportam o mundo e ele não pesa mais que a mão de uma criança. Alguns, achando bárbaro o espetáculo, prefeririam (os delicados) morrer. Chegou um tempo em que não adianta morrer. Chegou um tempo em que a vida é uma ordem. A vida apenas, sem mistificação. Pois se de tudo fica um pouco, por que não ficaria um pouco de ti? No trem que leva ao norte, no barco, nos anúncios de jornal, um pouco de ti em Londres, um pouco de ti algures? Na consoante? No poço? Por que és tu. Quem, com apenas duas mãos, reproduziria o sentimento do mundo? Quem, com tanta serenidade, ficaria sentado, contemplando um mar de pessoas na calçada? Quem suportaria o frio das madrugadas, ouvindo o som manso das ondas que se quebram, sem poder, ao menos, molhar a barra da calça? Quem deixaria que lhe levassem os óculos, uma, duas ou tres vezes, sem perder o foco? Quem seria capaz de morrer de amor e, ainda assim, permanecer imortal?"

Drummond

Nenhum comentário:

Postar um comentário